Em 2007 fiz um trabalho sobre a questão do negro com alunos
do 9º ano do ensino fundamental II, de uma escola que trabalhei localizada na
Cidade Líder. Pensei em fazer algo que fugisse dos padrões discutidos
normalmente, e lembrei-me de um personagem importante da região onde morava,
via meu irmão mais velho, o Valter falando muito sobre ele, o senhor Sebastião
Francisco o Negro, acompanhei essa história sem dar muita importância, era moleque
e não me atentava a algumas questões, mas mesmo assim gostava de ouvir sobre
esse senhor, e assim foi. Queria discutir essa questão, partindo da realidade local, por isso recorri
ao Valter para dar início ao meu trabalho, pois ele, além de ser professor de História, também
foi amigo de Sebastião. Pronto, juntei duas coisas, a proximidade com o meu
irmão e o conhecimento dele acerca desse senhor, fizemos eu e os alunos um
lindo trabalho, que finalizamos com uma palestra sobre o Sebastião Francisco o
Negro e a partir daí que nasceu esse texto que vou compartilhar. “Herói quase
anônimo” escrito para um jornal do bairro no final de maio de 2007. Pois é,
coincidência ou não amanhã é 13 de maio.
Herói quase anônimo.
No último dia 13 de maio, foi a
comemoração da suposta data da libertação dos escravos, data esta que a meu ver
não deveria ser comemorada, pois quando falamos em liberdade, é sempre possível
questionarmos até onde realmente os negros foram libertos. Pois bem, para não
deixarmos essa data passar despercebida, resolvi falar do assunto com meus alunos
de maneira diferente, pois poderíamos tentar resgatar parte dessa história
falando da nossa própria realidade, ou até mesmo do que esta ao nosso redor, e
foi exatamente o que foi feito.
Pensando nisso resolvi perguntar aos
alunos quem seria o Senhor Sebastião Francisco o Negro, poucos se arriscaram a
responder, na verdade quase ninguém já ouvira falar dele, partindo dessa
realidade que eu acabara de encontrar resolvi apresentar esse grande sujeito
para a escola, Os alunos ficaram surpresos que no bairro onde eles estudavam já
teve um homem do qual podemos nos orgulhar e também usar como referência de
trabalho social, solidariedade e dedicação a seu semelhante.
Enfim, quem foi Sebastião Francisco o Negro, Teve uma
história marcada por uma participação ativa embora anônima em grandes lutas
políticas sindicais sociais e comunitárias, como exemplo atuou na luta pela
melhoria urbana no bairro da Cidade Líder. Participando principalmente ao longo
das décadas de 60, 70 e início dos anos 80, em mobilizações que resultaram na
pavimentação de ruas, construção de escolas e demais equipamentos urbanos.
Nestas mobilizações atuou em parceria com outros lideres comunitários locais
dos quais um dos mais ativos era Miguel Pereira Lima, na luta social e sindical
foi responsável pela criação de alguns sindicatos no Brasil, tendo participado
do inicio da organização do sindicato dos metalúrgicos de São Paulo. Porem como
profissão durante a vida inteira trabalhou mais como pedreiro e era esse o
oficio que exercia quando foi prezo em 1935 por razoes políticas, pois
participou da revolta organizada pelo Partido comunista e pela Aliança Nacional
Libertadora. Propunha já na década de 30 do século passado a reforma agrária e
o controle sobre o lucro das empresas estrangeiras, nesta prisão política que
era chamado de presídio Maria Zélia, sofreu terríveis torturas, mas conheceu
vários militantes do movimento socialista e comunista, fazendo amizades com
vários deles e uma das suas amizades mais fortes foi com seu homônimo Sebastião
Francisco, que também era militante do partido comunista, mas esse exercia a
profissão de pintor, era branco e de origem Italiana. Para diferenciar ambos na
hora da chamada do carcereiro na conferência dos presos, começou a chamar o
Sebastião Francisco de “o Negro”. Pois existiam dois Sebastião Francisco que
alem de terem o mesmo nome, também militavam no partido comunista. Neste
período também estavam encarcerados vários intelectuais comunistas, um deles
era o escritor e historiador Caio Prado Junior, que organizaram uma espécie de
escola de formação política dentro do presídio. Depois de libertado, Sebastião
Francisco O Negro continuou na luta política pelo fim das injustiças sociais
tendo participado também de uma organização clandestina chamada de Socorro vermelho
que ajudava as famílias dos que haviam sido assassinados na ditadura do estado
novo e posteriormente na ditadura militar estalada com o golpe de 1964. Após
seu falecimento seus amigos do Partido comunista Brasileiro que moravam em cidade Líder e atuavam
nas associações de bairros de Itaquera fizeram um abaixo assinado para que seu
nome fosse dado a uma escola municipal que foi inaugurada em 1992, aqui na
Cidade Líder. Pois é, fez tanto pelo bairro, amigos e família que nada mais
justo que receber como homenagem o nome de uma escola da qual só pode ser
erguido por conta de um grande movimento social, que por sua vez foi inspirado
com exemplos, que o Senhor Sebastião Francisco o Negro o fez. Que isso fique como exemplo cada
dia do ano, pensar na questão do negro não só no dia 13 de maio ou 20 de
novembro, pois a história dos negros tem que ser lembrada todos os dias, e não
somente nas datas acima citadas.
Tive a oportunidade de acompanhar a apresentação do trabalho do Marcio com os alunos, também percebi o quanto eles se alegraram com a realização do trabalho.
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