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sábado, 12 de maio de 2012

Herói quase anônimo...



Em 2007 fiz um trabalho sobre a questão do negro com alunos do 9º ano do ensino fundamental II, de uma escola que trabalhei localizada na Cidade Líder. Pensei em fazer algo que fugisse dos padrões discutidos normalmente, e lembrei-me de um personagem importante da região onde morava, via meu irmão mais velho, o Valter falando muito sobre ele, o senhor Sebastião Francisco o Negro, acompanhei essa história sem dar muita importância, era moleque e não me atentava a algumas questões, mas mesmo assim gostava de ouvir sobre esse senhor, e assim foi. Queria discutir essa questão,  partindo da realidade local, por isso recorri ao Valter para dar início ao meu trabalho, pois  ele, além de ser professor de História, também foi amigo de Sebastião. Pronto, juntei duas coisas, a proximidade com o meu irmão e o conhecimento dele acerca desse senhor, fizemos eu e os alunos um lindo trabalho, que finalizamos com uma palestra sobre o Sebastião Francisco o Negro e a partir daí que nasceu esse texto que vou compartilhar. “Herói quase anônimo” escrito para um jornal do bairro no final de maio de 2007. Pois é, coincidência ou não amanhã é 13 de maio.



Herói quase anônimo.

No último dia 13 de maio, foi a comemoração da suposta data da libertação dos escravos, data esta que a meu ver não deveria ser comemorada, pois quando falamos em liberdade, é sempre possível questionarmos até onde realmente os negros foram libertos. Pois bem, para não deixarmos essa data passar despercebida, resolvi falar do assunto com meus alunos de maneira diferente, pois poderíamos tentar resgatar parte dessa história falando da nossa própria realidade, ou até mesmo do que esta ao nosso redor, e foi exatamente o que foi feito.
Pensando nisso resolvi perguntar aos alunos quem seria o Senhor Sebastião Francisco o Negro, poucos se arriscaram a responder, na verdade quase ninguém já ouvira falar dele, partindo dessa realidade que eu acabara de encontrar resolvi apresentar esse grande sujeito para a escola, Os alunos ficaram surpresos que no bairro onde eles estudavam já teve um homem do qual podemos nos orgulhar e também usar como referência de trabalho social, solidariedade e dedicação a seu semelhante.

Enfim, quem foi Sebastião Francisco o Negro, Teve uma história marcada por uma participação ativa embora anônima em grandes lutas políticas sindicais sociais e comunitárias, como exemplo atuou na luta pela melhoria urbana no bairro da Cidade Líder. Participando principalmente ao longo das décadas de 60, 70 e início dos anos 80, em mobilizações que resultaram na pavimentação de ruas, construção de escolas e demais equipamentos urbanos. Nestas mobilizações atuou em parceria com outros lideres comunitários locais dos quais um dos mais ativos era Miguel Pereira Lima, na luta social e sindical foi responsável pela criação de alguns sindicatos no Brasil, tendo participado do inicio da organização do sindicato dos metalúrgicos de São Paulo. Porem como profissão durante a vida inteira trabalhou mais como pedreiro e era esse o oficio que exercia quando foi prezo em 1935 por razoes políticas, pois participou da revolta organizada pelo Partido comunista e pela Aliança Nacional Libertadora. Propunha já na década de 30 do século passado a reforma agrária e o controle sobre o lucro das empresas estrangeiras, nesta prisão política que era chamado de presídio Maria Zélia, sofreu terríveis torturas, mas conheceu vários militantes do movimento socialista e comunista, fazendo amizades com vários deles e uma das suas amizades mais fortes foi com seu homônimo Sebastião Francisco, que também era militante do partido comunista, mas esse exercia a profissão de pintor, era branco e de origem Italiana. Para diferenciar ambos na hora da chamada do carcereiro na conferência dos presos, começou a chamar o Sebastião Francisco de “o Negro”. Pois existiam dois Sebastião Francisco que alem de terem o mesmo nome, também militavam no partido comunista. Neste período também estavam encarcerados vários intelectuais comunistas, um deles era o escritor e historiador Caio Prado Junior, que organizaram uma espécie de escola de formação política dentro do presídio. Depois de libertado, Sebastião Francisco O Negro continuou na luta política pelo fim das injustiças sociais tendo participado também de uma organização clandestina chamada de Socorro vermelho que ajudava as famílias dos que haviam sido assassinados na ditadura do estado novo e posteriormente na ditadura militar estalada com o golpe de 1964. Após seu falecimento seus amigos do Partido comunista Brasileiro que moravam em cidade Líder e atuavam nas associações de bairros de Itaquera fizeram um abaixo assinado para que seu nome fosse dado a uma escola municipal que foi inaugurada em 1992, aqui na Cidade Líder. Pois é, fez tanto pelo bairro, amigos e família que nada mais justo que receber como homenagem o nome de uma escola da qual só pode ser erguido por conta de um grande movimento social, que por sua vez foi inspirado com exemplos, que o Senhor Sebastião Francisco o Negro o fez. Que isso fique como exemplo cada dia do ano, pensar na questão do negro não só no dia 13 de maio ou 20 de novembro, pois a história dos negros tem que ser lembrada todos os dias, e não somente nas datas acima citadas.




1 comentário:

  1. Tive a oportunidade de acompanhar a apresentação do trabalho do Marcio com os alunos, também percebi o quanto eles se alegraram com a realização do trabalho.

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